É interessante ver o que pessoas de séculos anteriores esperavam dos anos 2000, em especial a tecnologia, ilustrações tem aos montes e sempre de caráter mais otimista. O que as grandes maravilhas da tecnologia nos proporcionaria, uma vida com menos trabalho é óbvio. É interessante notar esse otimismo nessas obras, vide os jetsons. Até uma visão mais sombria pós máquinas em Duna, do que essas facilidades vizeram da raça humana.
O futuro do passado e do futuro do futuro, longe da imaginação, está o instável presente. A tecnologia está acontecendo, entrando na vida de cada um, mas o que realmente significa tudo? o que significa a tecnologia entrando nas nossas vidas? Vejo um processo de prisão do que libertação. O que é irônico, as máquinas são ferramentas para nós libertar de um trabalho exausto e cansativo, de fato é. Mas ela também nos libertou da capacidade de pensar, de sentir por nós próprio.
Penso no ciborgue, metade homem e metade máquina, mas onde começa a máquina e onde começa o humano? Onde capacidade humana é suplantada no lugar de uma lógica fria? A noção de ciborgue, a relação de homem máquina por agora, não é uma coisa nova a medida das novas tecnologias se desenvolve. Podemos pensar no GPS que suplanta o senso de navegação, o hipocampo, que por consequência, afeta a memória. Apesar disso, ainda não é uma troca permanente por uma coisa cibernética, através do esforço e treino, a capacidade humana volta a seu estado natural. Mas isso não é ruim, o ser humano cria ferramentas justamente para facilitar o trabalho e podemos nos voltar em outras atividades, normal não é?
Acredito que o desafio do ciborgue é encontrar um equilíbrio entre a máquina e homem. Mas se voltarmos os olhos no presente, o ciborgue é muito real, mas sem a parte da harmonia. A parte máquina está ganhando mais espaço do que deveria, a ferramenta domina quem deveria dominá-la, não é algo libertador, é algo para nos escravizar. No GPS existe a dependência, nesse caso é pura escravização da mente, onde ela é cooptada e é upada de forma gradual na mente. As coisas viram antônimos, o inverso do processo:
A liberdade vira escravidão
Memória vira esquecimento
Os nossos captores é difícil de se apontar. Acredito que venha de todos os lados. Do humano ao algoritmo, do burro e do inteligente, do maléfico ao ingênuo.
A complexidade de toda discussão continua. Não que a captura seja o ponto de partida, mas me parece que tem uma outra camada, que também é bastante nebulosa e difícil de apontar causa sem cair em contradições. Uma coisa é quase certa de se apontar, isso em relação ao indivíduo, que é a capacidade de ser cooptado, que há indivíduos facilmente pegos e outros não, infelizmente é um fato. A questão é: qual a causa de serem facilmente cooptados? A ordem cósmica da coisa? Ignorância adquirida ou não "curada"? Falta de moral ética ou espiritual? até mesmo o QI.
Algo que me apontam, que é fácil de se contradizer, é em relação às diferenças em sociedades desenvolvidas e subdesenvolvidas (QI também de certa forma) é a falta de propósito ou um tédio profundo. Por exemplo, em sociedades desenvolvidas onde as coisas são mais acessíveis, por consequência mais fácil de sobreviver, isso causa uma perda de "propósito de sobrevivência". O que seria inversamente proporcional às sociedades subdesenvolvidas, já que por não possuírem essas coisas, a questão de sobrevivência é algo real, logo existe um propósito e a mente fica livre dos males do ócio. Que obviamente não é verdade, às vezes até ocorre de forma pior o vício. Da mesma forma em relação ao QI, por esses quesitos, as sociedades desenvolvidas não teriam, ou seria menor (que também não é o caso). Enfim, é uma via de várias mãos.
Os meios de colonização da mente são cruéis. Me lembro que a minha primeira noção de perceber que sou uma pessoa, que vive e pensa, foi em 2013 naqueles famosos protestos. Ainda se dava para notar os traços da "edição da realidade", me lembro que quando era mostrado sobre as manifestações, no ao vivo era mostrado uma coisa, no jornal da noite era uma coisa completamente diferente, como se fosse outra coisa. Isso em 2013, onde ainda restava pontos de uma realidade concreta. 2025 é algo completamente insano de se pensar. Por exemplo, eu me mantenho vigilante em relação a isso, quando vou abrir o X (antigo twitter) ou Youtube, depois de alguma "scroladas", o que era pra eu ver se perdeu completamente e acabo vendo coisas que nem são do meu interesse, o caso do youtube é pior, às vezes abre direto o shorts, quando me dou conta, já estou assistindo 50 shorts. Isso numa pessoa vigilante (pelo menos eu me considero), em uma pessoa sem vigilância eu nem quero imaginar.
A questão que penso em relação ao ciborgue é o acesso fácil do que a humanidade criou e é o mais elevado. Mozart, Da Vinci, quase infinitos livros de literatura e filosofia. Quase tudo praticamente, mas por que continuamos olhar por outro lado? Eu tenho mais ou menos a resposta, é uma grande quantidade de informações (de verdade), e o fluxo assusta, então é melhor nem tentar. Ou tenta mas de forma descuidada e acaba virando hiperruído. Claro que isso não é um cenário pessimista, trocar parte da humanidade para justamente entrar em contato com a humanidade. Mas de uma verdadeira humanização, não é necessário colocar um processador ou uma RAM no cérebro. Mas entender onde cada coisa pertence, saber usar e aproveitá-la.
Apesar do medo das IA's de substituir o fator humano, acredito no bom uso dela. Claro que é idiota substituir as coisas sensíveis (arte por exemplo), mas harmonizar com administração ou controle de estoque. Sem medo do novo mas aprender a dominá-lo.
A minha visão do ciborgue não é substituir ou trocar partes humanas, mas uma nova definição da relação entre Homem e máquina.
O futuro e o presente são incertos. Uma nuvem densa à frente, a certeza da incerteza é certa. O bom é que nada foi definido, mas não se prenda a uma visão de futuro, já que ela pode não se realizar. Se isso lhe assusta, faça alguma coisa, pelo menos com você mesmo. Já pensamos em milhares de futuros - da sombria Duna pós máquinas, dos Jetsons, cujo futuro glorioso era, para eles, apenas presente comum. Imaginamos liberdade e escravidão, mas agora vivemos tempos onde uma se disfarça de outra. O desafio não é rejeitar a máquina nem se fundir com ela, mas manter vigilância constante sobre onde termina a ferramenta e onde começa o cativeiro.